quinta-feira, 1 de junho de 2006

Cartas e respostas a um artigo sobre Caça Submarina escrito por mim

CARTA 1

Em resposta ao artigo "A Caça Submarina" de Frederico Cardigos

Embora humanamente permitido, não é suposto entramos no campo das emoções, especialmente quando estamos a falar de medidas que, ao entrar em vigor, afastam outro animal também muito conhecido, o Homem e no caso específico da Pesca Submarina, de homens que ludicamente comungam com a Natureza e os seus elementos.

Como homem de ciência que é, apoia com certeza as decisões baseadas em algo palpável. Neste caso específico falo de contagens de pescado, de levantamentos nos próprios locais de pesca, de estudos suportados no tempo e no espaço.

Aqui há dias, num canal de cabo, fiquei surpreendido ao ver um programa acerca de como um país, do qual não me recordo o nome, geria o seu peixe. Os Biólogos tinham eles próprios navios de pesca nos quais faziam capturas nas diversas zonas e com as quais conseguiam ter um seguimento real do que era ou não desejável apanhar e em que quantidades. Depois esta acção ficava mais completa com uma estreita colaboração a bordo das embarcações de pesca comercial.

Volto então a pensar nos sentimentos que partilhou com os leitores e dou comigo a pensar que de facto um azar nunca vem só e que cá em Portugal até os Biólogos Marinhos têm sentimentos.

Claro que assim, ao olhar Portugal pela lupa poética e sentimental, talvez possa perceber porque razão os Meros estão em extinção para os Pescadores Submarinos insulares mas sejam pescados às toneladas na pesca comercial, que as Berlengas tenham de ser protegidas dada sua riqueza cinegética, da Pesca Sub, mas que as restantes Pescas lá possam tirar quantidades sem limite, que Sesimbra seja a mãe de todos os peixes mas que todos, excepto os do costume, lá possam pescar sem limites e que num futuro próximo Portugal possa ser o mais exemplar país na protecção dos mares sem que nada de mensurável lhe sirva de base.

Sr. Frederico, se já não era correcto responsabilizar a Pesca Submarina pelos males do mar sem qualquer base científica não é também, com certeza, nem sequer moralmente correcto, responsabilizar o Pescador Submarino por tudo aquilo que se faz abaixo da linha de água. Para isso existem leis e autoridades para as fazer cumprir e aplicar, individualmente as penas previstas em caso de incumprimento.

Se é aos Pescadores Submarinos que cabe mudar tudo? Também é uma questão muito discutível porque nos países a sério são os senhores cientistas que pautam a mudança e afinal de contas, onde estão os estudos que comprovam qual o peso da Pesca Submarina em Portugal Continental?

Talvez já fosse tempo informar, quem financia com milhões estas reservas naturais, de que as decisões são baseadas em puros laivos de poesia e sentimento e que dificilmente se reflectiram num mar sustentável.

Maldito fado!

Com os meus melhores cumprimentos,

Nuno Rosado

CARTA 2

CAÇA SUBMARINA...

pensando nela… continuando o tema do Dr. Frederico Cardigos, no Mundo Submerso nº 107 Maio de 2006…

Na minha actividade de caçador e naturalista, significativa parte de 50 anos vividos, conheci e estabeleci amizade ou colaboração com cientistas e investigadores, de que são exemplo, Francisco Rainer, João Pedro Barreiros , Carlos Fonseca, Pedro Vaz Pinto, cujos títulos académicos e obras omito, dada a nossa proximidade e termos partilhado paixão e saber, o que acima de tudo considero um privilégio e uma distinção.

Do mesmo modo entendo como privilégio a atenção dos leitores, desta e outras revistas, a quem tentei de algum modo transmitir algo. Poderei ser prosaico, mas tento “fazer cultura”; cultura da Caça… o que leva alguns a apoiarem-me e outros nem por isso…mas é assim como em tudo o mais e o balanço é positivo, o que me anima a continuar e me levará em breve mais longe…

O Dr. Frederico Cardigos, constitui um marco nesta revista multidisciplinar, por em minha opinião, fazer cultura: - A da Ciência!

Li atentamente, a sua reflexão sobre a caça submarina! Assumo que sofri algumas pressões e sugestões para lhe responder, algumas menos próprias, por desentendimento ou excesso de paixão, o que evitei, pois o que pretendo é continuar a reflectir no tema e não abrir polémica, não por a recear, mas porque entendi claramente a preocupação que ele transmite.

Começarei pelo fim e para, contrariamente ao que muitos esperam, lhe dar razão !

Como ele também eu questiono:

- Quem está preparado para seguir um código de conduta?

Basta dar uma vista de olhos pelos sites nacionais de pesca submarina, que a despeito das intenções louváveis dos seus criadores, espelham uma situação ambígua nas atitudes e ideias, de interesses muitas vezes mal dirigidos.

Percebe-se a falta de mobilização e a ineficácia para mudar o estado das coisas, a começar pela formação ética dos pescadores submarinos. Recentemente, aí pude ler alguém – anónimo – que dizia ter cada vez mais vontade de caçar à noite. Lapidar! Depois temos o resultado em Sesimbra…bem o merecem!

Os verdadeiros Caçadores respeitam as regras, mas quem são? Pergunta-se…

São os que lêem estas páginas? Ou os que não lêem, porque as acham repetitivas, enfadonhas, uma seca…e sobretudo porque acham que já sabem tudo, e porque elas não tratam de “matar peixe”, aquilo que apenas interessa a uns quantos que se julgam a maioria? Nós, no “Mundo Submerso”, bem sabemos que não são!

E lá virão as restrições dos Açores e Madeira e mais Berlengas…estão eles mesmos a trabalhar para isso… e que facilidades dando aos nossos detractores… perante o imobilismo generalizado de quem o máximo que faz é de vez em quando carregar no teclado e enviar um mail , normalmente mal-alinhavado, escrito sem reflectir, num impulso imediato, falho de consistência e objectividade o que a Internet promove, e como tudo que é instantâneo é efémero… Exactamente! A Internet é para mim a “cultura do instantâneo”, consequência duma modernidade que rejeito!

Discordo no entanto das limitações que Frederico Cardigos sugere, de modo geral.

Elas são-nos impostas naturalmente e por outros meios, não achando portanto que se justifiquem. Temos o exemplo do mero, que nos Açores pode ser capturado por todos os meios e sem limites, salvo em pesca submarina! O mero, ícone do pescador submarino, todavia sensível nestas paragens, deveria estar sujeito a limitação de tamanho, quotas e licença específica, que simultâneamente o protegesse e gerasse a mais-valia económica que seria investida na sua protecção e na região. Seria justo e sensato… mas, são-no os homens?

A comparação entre pesca lúdica e a profissional, em termos económicos também não merece a minha concordância. A pesca comercial intensiva e de grande volume, está em declínio – causada pelos seus próprios excessos – tendo de ser reconvertida para a aquicultura.

Falando agora da pesca artesanal, pois essa só tem a ganhar com a pesca lúdica e a ela pode e deve aliar-se como forma de subsistência quer da tradição quer da actividade em si. É uma visão de marketing estratégico e de sustentabilidade, para que as competências deveriam virar-se. Compará-las do modo, digamos sócio-político, como o fez (ponderar entre o peso da pesca desportiva e a de quem tem família para sustentar), é mais do que uma falácia, um erro, e, poderei sempre retorquir que nesse contexto corremos o risco de as poderosas associações de agricultores e da Distribuição, pegarem no tema e pressionarem no sentido serem interditadas as hortas particulares de subsistência de feijão, batatas e couves; criar galinhas ou engordar o porco familiares e até ter uma simples ameixeira no quintal… cedendo a um corporativismo exacerbado que depois cedendo aos sindicatos e lóbis nos impeça futuramente de fazer reparações e as limpezas domésticas, lavar a própria roupa e até quem sabe…cozinhar em casa ! (Aqui, o Pedro Manaças dá um salto na cadeira!)

Rematando esta primeira parte, concluo dizendo que a actividade cinegética terrestre, está de facto bem adiantada em alguns destes assuntos e dela haveria muita coisa a copiar, começando na ligação à investigação científica, mas sobretudo como actividade económica e de sustentabilidade do Mundo Rural, do Meio Ambiente e Biodiversidade, que finalmente vem a ser reconhecida. Como exemplo deste pragmatismo, o facto de ter desenvolvido dois módulos sobre os temas “Ética Empresarial” e “Marketing Aplicado à Actividade Cinegética” que foram incluídos no curso de formação profissional em Gestão Cinegética ministrados pela CAP e ANPC. Assim fosse entre as actividades subaquáticas – pesca submarina incluída – e o Mundo Litoral e da Pesca!

Guardo para o final aquilo porque Frederico Cardigos inicia a sua reflexão, e, porque me parece justamente assunto da maior importância., que classifica “de algibeira”, mas é parte integrante da caça, como de qualquer actividade humana, por definição e efeito: - A filosofia da caça!

Pensar a Caça, é o que faço desde há muito e cada vez mais, como ser pensante que sou e o que tantas vezes aqui tenho trazido, seja em artigos técnicos, histórias ou artigos de viagens. Eu sei perfeitamente porque caço!

Não caço para comer – isso faz o leão –, nem caço por instinto – isso fazem os meus cães –, eu caço em consciência! A minha “área cinzenta”, há muito que neste campo desapareceu, porque sei cada vez mais e melhor porque é que caço; ao fim de tanto tempo, tantos lugares, tantos peixes… mas continuo a filosofar sobre a caça, as minhas motivações, sobre aquilo que vejo e sinto, ainda e sempre, as sensações renovadas em cada jornada, sempre na expectativa do que vou ver, sentir, do que vai acontecer…do que está para além.

Penso também na morte, claro, eu sou caçador e como tal convivo com ela, inflijo-a e o assumo… mas também sei e cada vez com mais segurança que não gosto de matar, que a morte dos seres que caço não é o meu objectivo, mas sim a forma de atingir uma finalidade implícita ao caçador:

- A sua posse! Só assim me apodero deles fisicamente, os apreso !

Vê-los, guardar a sua imagem num papel, não me basta…porque eu sou um caçador!

Matar é uma consequência da caça, faz parte do processo como faz parte da vida. Mas não se resume a tal, o que é uma confusão comum entre os não-caçadores, que só conhecem a morte como sendo fruto do ódio e da violência. Eu pergunto então:

- Se o caçador mata por prazer, qual é a motivação dos amantes dos animais? Ter sexo com eles? É que na mesma linha do absurdo e do desconhecimento, o amor só se justifica com o acto sexual…

A que nível vamos colocar S. Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Gandhi ou João Paulo II? Como pessoas que amaram intensamente… de tarados sexuais?

E Aquilino Ribeiro, Miguel Torga, Hemingway ou Manuel Alegre? Porque caçadores apaixonados… sádicos sanguinários?

Sucede que a morte para quem a entende, e mesmo para a ciência, não é o fim e sim uma passagem:

- Uma planta ou animal, morrendo vão incorporar outros e passar a viver neles, e por aí adiante, perpetuando-se como a própria Natureza que é infinita, e se mantém assim a vida. Em todos os estratos e em todas as formas de vida há caçadores e presas e transferência de energia, no plano físico ou noutro – caso do troféu! O Caçador faz disso

um acto de veneração, sendo a Natureza o seu altar.

“ Quando matardes um animal, dizei-lhe com todo o coração:

- Pelo mesmo poder com que te abato, também eu sou abatido; e também eu serei consumido. Porque a lei que te entregou nas minhas mãos me irá entregar a uma lei mais poderosa. O teu sangue e o meu sangue mais não são do que a seiva que alimenta a árvore do céu.”

(Kahlil Gibran)

Não é por acaso que a caça é indissolúvel da gastronomia (agora o Manaças respira fundo…), por tradição, quem sabe se por via de uma sabedoria infinitamente superior que transformou bichos-homens em seres humanos. Simples animais que eram presas de outros, mas alijando essa condição se ergueram primeiro como predadores e depois se tornaram homens. É essa passagem que o caçador celebra ainda hoje quando sai para a Natureza de arma na mão, integrando-se nela em acto de caça, em glória de predador, algo que o passeante de cajado ou máquina fotográfica, não pode experimentar:

- A suprema liberdade de não temer, porque já não é presa!

Não sei que liberdade Frederico Cardigos sentirá quando sai para o mar, para um mergulho, mas será talvez diversa da minha, em intensidade e abrangência. O que me leva a ir caçar, por prazer não obrigação, em dias de mar mau, água batida, suja e fria, mesmo sem peixe, a vencer condições muito adversas? Será porque como digo, conhecendo as razões, eu serei mais consciente e motivado? Interessante questão, não tão fácil de responder…sobretudo para o homem moderno, fruto de gerações de condicionalismos, barreiras ideológicas e desvios vários que o afastaram sempre da Natureza, a que ciclicamente pretende voltar.

Nós Caçadores mantivemos essa ligação e a sabedoria da natureza, talvez hermética…pouco divulgada é certo… mas ela existe e ganharemos todos com a sua divulgação. Não vivemos na era da comunicação? E da comunicação nascem a tolerância e o entendimento, sublimes patamares do desenvolvimento da humanidade, seu apanágio, pura utopia como é também seu exclusivo.

O grande lírio que o Frederico Cardigos matou, navegou sem dúvida pelo azul, ao encontro do seu destino – como nós…- matando e comendo muitos outros peixes!

Quando o olhou nos olhos, não houve excitação…houve sim avaliação sobre o que você era: - Uma presa ou um competidor? Refeição ou ameaça?

Apenas isto, análise fria de um peixe-predador e não de um ser provido de sentimentos, o que um cientista sabe…um prosaico, como eu, pode permitir-se a divagações… o cientista não crê na alma, porquê sugerir que os bichos a têm?

Mas a verdade é esta, faz parte da incompreensão e é onde mais falha a argumentação contra a caça: - A atribuição de sentimentos ou estados de alma aos animais, que eles não possuem nem podem possuir, ou teriam como nós deixado de ser animais para se tornarem humanos! E falamos de animais selvagens, peixes neste caso…

O resultado é que tantos homens, confundindo esses sentimentos, numa exacerbação ou fanatismo tratam os animais como gente, e outros, gente como os animais!

Um pouco de poesia é parte da nossa condição de humanos. Uma parte de racionalismo também! Ambas são o sal e a pimenta da ideia.

Saibamos doseá-las, admiremos aos peixes magníficos que andam nos mares, extasiemo-nos com as sensações grandiosas que nos transmitem, saibamos vivê-las, recolhê-las e analisá-las ao nível do consciente. Sejamos homens, não animais.

Um grande abraço de apreço pelo seu magnífico trabalho e pela sua postura, honesta de quem fez pesca submarina e não gostou, que acredita no que faz e divulga – a Ciência!

Saúdo-o Dr. Frederico Cardigos!

Como complemento a esta dissertação – que não passa disso mesmo - , porque noutros lugares e tempos, houve autores que se dedicassem muito mais e melhor aos temas que aqui abordo, para quem queira ir mais além, vos sugiro a leitura de:

Internet : no site www.santohuberto.com , no lado direito da página de abertura e correndo o rato para baixo, encontrarão a tema “OPINIÃO”, e, dentre os 5 mais visualizados : “ A CAÇA NO SEC.XXI – UMA ATITUDE COM SENTIDO”.

Penso que trata este tema de modo alargado e dá boas pistas a quem queira reflectir nos porquês daquilo que faz, ou que outros fazem.

Livros : Kahlil Gibran – “O Profeta” – aconselho vivamente ! Uma sábia visão de questões entre as quais a da morte e da incorporação via alimento.

José Ortega y Gasset – “Sobre la caza y los toros”– Imprescindível! Uma análise filosófica da caça e suas motivações.

António Luiz Pacheco

RESPOSTA:

Que bom que é vivermos num canto do mundo em que todos podemos expressar civilizadamente a nossa opinião, de uma forma entusiasta, aberta e honesta, para tentarmos encontrar as melhores soluções em relação a problemas complexos. E é tão bom podemos discordar, num franco elogio à diversidade e à complexidade humana, sem receio de incompreensão extremista. Penso que não há hipótese de discutir quando se extremam posições. Ficamos apenas com um amargo de boca e não se chega a falar de nada.

Correndo o risco de repetir o que já aqui foi dito por mim, no artigo em causa e pelas respostas ao mesmo, gostava, no entanto, de aproveitar para acrescentar uns pontos, reforçar algumas das afirmações e discordar de outras.

Sim. Não apenas eu, mas os biólogos em geral, como humanos que somos, também temos sentimentos. É um facto científico do qual não abdico.

No meu artigo não comparei a caça com qualquer outra actividade extractiva. O desafio era escrever sobre caça, o que fiz. Não esperava ser consensual e é natural que muitos estejam contra a minha forma de pensar. Isso não faz mal. Não sou um político por isso não tenho que me preocupar com a consensualidade bacoca. Sou um cientista, apenas me tenho que preocupar com a verdade e, de um ponto de vista mais filosófico, com o Bem.

Não tenham dúvidas que tudo o que afirmei se baseia em ciência ou em sentimentos, mas esses, penso eu, estão claramente identificados. Ou seja, a caça-submarina tem impacto ambiental, há regras que não são respeitadas e há regras que deviam estar implementadas e não estão. Recomendo a leitura da documentação que a unidade de investigação em que trabalho tem escrito sobre áreas marinhas protegidas e mesmo sobre a caça nos Açores. Verão que há "quilos" de artigos e relatórios (está quase tudo na internet) assentes em "toneladas" de trabalho de campo. Posso garantir, porque eu participei. O Director desta revista também sabe porque acompanhou parte do trabalho.

Em resposta ao Nuno Rosado informo que há, pelo menos, dois navios que passam grande parte do ano a pescar para fazer a avaliação dos mananciais de pescado de Portugal. Verifiquem o que fazem o N/I "Arquipélago" e o N/I "Noruega". Não têm é a sorte de ter equpas de televisão a bordo a fazer o registo dos trabalhos... Mas esta é apenas uma das técnicas. Há outras e em Portugal aplicam-se quase todas. As decisões até podem ser mal tomadas por incapacidade ou falta de coragem do decisor ou por o desenho científico ser pouco abrangente (quando não há dinheiro…), mas não o são, certamente, por falta de trabalho cientifíco subjacente ou interesse da comunidade ligada a esta área (sim, não podemos esquecer os técnicos e tripulações).

A caça submarina tem impacto ambiental. Evidentemente que tem menos que outras actividades e, dentro das actividades extractivas recreativas, é das que têm menos impacto, mas tem! E se for praticada de forma desregrada tem-no ainda mais. Como dizia no meu artigo, e penso que concordarão comigo, até que haja formação ou certificação dos caçadores, declaração de áreas marinhas protegidas e fiscalização eficiente, não faz sentido falar-se em reduzir as restrições à caça. Seja a regra dos cinco peixes ou a lei do mero nos Açores, ou a regulamentação existente no Continente. Os passos são sequenciais e os primeiros têm de estar orientados no sentido de proteger redundantemente a natureza. É a minha perspectiva. É evidente que as Áreas Marinhas Protegidas (AMP) são necessárias e é evidente que tem de haver regras nas actividades extractivas e é evidente que a implementação de ambas deve ser feita em conjunto com os utilizadores (ou seja, também com os caçadores-submarinos). Estas são afirmações indiscutíveis. Há alguns destes pontos que estão a falhar na implementação de novas regras no Continente de Portugal. Concordo, mas penso, e corrijam-me se estiver enganado, que até ao momento não há uma associação de caçadores submarinos, pois não? Então como querem ser ouvidos enquanto interlocutores se nem sequer estão organizados?

Parece-me também que se deveria tentar definir o que é um caçador submarino. Será que o fulano que utiliza garrafas, vende o pescado e não sabe o que apanha deveria ser chamado de “caçador submarino”? Onde estão as fronteiras? O António Luiz Pacheco descreve a aquilo que na sua perspectiva são os caçadores, mas será esse o perfil do caçador médio em Portugal? Tenho as maiores dúvidas e os inquéritos que temos realizado não apontam nesse sentido. Empiricamente, para mim, o caçador médio é um jovem, do sexo masculino, iletrado em termos de mar, que se ajeita em apneias mais ou menos longas e cujo o sonho é capturar o pescado suficiente para vender no restaurante mais próximo. Estarei errado?

Não acredito na simplificação que é feita em relação à pesca industrial. Evidentemente que há pescarias insustentáveis, mas há outras que convivem bem com o ambiente. Desde que assente em boa planificação científica, utilizando modelos estatísticos precaucionários e com redundância ecológica (como as áreas marinhas protegidas) é perfeitamente possível conciliar a pesca industrial com o ambiente. Infelizmente, os políticos europeus (ou quem os elege) ainda não entenderam isso. Concordo que a aquacultura deverá crescer nos próximos anos, mas não creio que seja a solução para todos os problemas. Penso que será apenas mais uma oportunidade de produzir, neste caso pescado. No entanto, mais uma vez, há que estudar o impacto ambiental da aquacultura. Estas estruturas têm o poder poluente equivalente a uma qualquer unidade fabril.

Sobre a prioritização das actividades admito que não entendo muito bem o raciocínio. Considero que, entre praticar-se uma actividade por desporto ou fazê-la profissionalmente, em caso de conflito, tem de haver uma hierarquização. O mesmo Princípio se aplica noutras áreas como seja a Observação de Cetáceos. Os Observadores profissionais têm prioridade sobre os lúdicos e isso não causa qualquer drama ou sequer controvérsia.

Agradeço ao António Luiz Pacheco (proponho que eu passe a “Frederico”, é tão mais simples) a franqueza com que abordou a sua aproximação à caça. Não sei se muita gente teria a sua frontalidade. A justificação filosófica da caça é muito complexa e, na minha opinião, fica ao critério de cada um a forma como a aborda. Para mim a caça é simplesmente e friamente um instrumento metodológico para a obtenção de informação. Por vezes, quando, após a recolha dos dados, o pescado ainda está em condições, ele é utilizado para a alimentação (por mim, pelos colegas ou é dado a uma instituição de caridade). Não sinto qualquer prazer em matar. Quanto disparo o arpão, movimento a rede, puxo o anzol ou apanho o crustáceo, sinto pena do animal cuja a vida irá terminar. Isto é o que sinto. Apesar das palavras entusiastas e apaixonadas do António Luiz Pacheco, não entendo porque será a fotografia insuficiente, mas não tenho de entender tudo e respeito totalmente quem pensa de forma diferente.

Para mim, a diferença entre o homem e os outros animais é ténue, sendo muito maiores as semelhanças e as interdependências do que os contrastes. A diferença estará alojada na “consciência do conhecimento adquirido e na “existência de ética”? Os conceitos não são meus, mas parecem-me bem. Portanto, considero que sim, os animais sentem e, portanto, não lhes devo infligir dor gratuitamente. Mas, reforço, esta é a minha perspectiva e ninguém tem de pensar como eu.

De facto, o mar é enorme, cheio de aventuras e belezas. Penso que todos nós estamos ao lado da sua defesa e, como me dizia o Luís Quinta no outro dia, “temos de encontrar as plataformas de entendimento que permitam a sua conservação e a sua utilização adequada”. Não poderia estar mais de acordo. Vamos falando, cheios de interesse e muita daquela emoção que apenas se permite aos apaixonados. Paixão de mar!


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