sexta-feira, 26 de dezembro de 2003

A Lagosta

(Introdução)


A lagosta-castanha (Palinurus elephas) é uma das mais de 30 mil espécies de crustáceos descritas e uma das mais de 1 milhão de espécies de artrópodes existentes. Apesar de “diluída neste mar de espécies”, a sua dimensão, o exotismo e... o sabor tornam-na alvo de atenção especial por parte do mergulhador e do caçador submarino.


Identificação


Este animal possui um esqueleto exterior rijo (exosqueleto) e numa peça, a carapaça, une o cefalotórax. Esta carapaça, de forma aproximadamente cilíndrica, possui diversos espinhos. O abdómen é articulado e termina numa peça de nome telson ladeado por urópodes. Possui, na parte anterior da carapaça, duas longas antenas frontais semelhantes a chicotes. Possui cornos (em biologia não é uma grosseria dizer “cornos”) de forma triangular, localizados na parte anterior do corpo, que são separados por um espaço denticular no bordo interno. Estes cornos servem de armadura de protecção em relação aos olhos. O rostro é mediano, rudimentar, de pequenas dimensões. O quinto par de patas locomotoras é o mais curto e nas fêmeas possui pinças (que servem para manipular os ovos). Os caracteres morfológicos externos são suficientes para permitir distinguir entre machos e fêmeas. A cor é vermelho-acastanhada. Possui duas grandes manchas amareladas em cada segmento abdominal. O comprimento total pode chegar aos 50 cm, embora seja difícil encontrar animais com mais de 35 a 40 cm.

Na Europa dificilmente poderá confundir a lagosta com outra espécie. É que esta é a única espécie de lagosta que está registada para as águas menos profundas da Europa. O animal mais parecido que frequenta as nossas águas é o lavagante, mas as diferenças nas tenazes, por exemplo, são tão grandes que tornam os animais inconfundíveis. Caso encontre uma lagosta incomum, tente fotografá-la e envie a informação à unidade de investigação mais próxima da zona de registo. No norte de África poderá ser encontrada, dentro dos limites de distribuição da lagosta verde, a espécie Palinurus regius, mas não em Portugal (embora algumas referências apontem para a presença desta espécie em França e Espanha).

O seu comportamento social é em geral gregário. A espécie apenas efectua movimentos limitados e concentrados durante a noite para se alimentar e reproduzir. A preferência pelo período nocturno, especialmente nos indivíduos mais jovens, está relacionada com a tentativa de evitar eventuais predadores. As migrações maciças, típicas das espécies das Caraíbas, não foram ainda detectadas para a espécie europeia, embora a densidade costeira diminua com o final do período de reprodução, voltando a aumentar na Primavera. Nalgumas espécies das Caraíbas foram detectados indícios de um sistema muito complexo na orientação destas espécies que permitem não apenas detectar uma linha de rumo como também determinar a sua posição geográfica. As experiências incluíram a transladação de animais de um lado para outro no sentido de verificar se o movimento se dava com a mesmo rumo. Nessas experiências, os cientistas detectaram que os animais faziam variar o seu rumo conforme o local em que tivessem sido colocados. Isso apenas é possível se existir uma forma de detectar a sua posição num dado momento. Depois de mais algumas experiências, os investigadores obtiveram alguns indícios de que essas espécies de lagostas têm aparentemente a capacidade de tirar linhas de posição sucessivas em relação ao pólo magnético, de forma a detectarem a sua posição actual.

A alimentação é variada, incluindo algas, esponjas, briozoários, anelídeos (poliquetas), moluscos, ouriços, crustáceos e, excepcionalmente, peixes. A lagosta pode alimentar-se de bivalves, conseguindo quebrar as suas conchas. Também não desprezam a alimento morto (o que é utilizado pelos pescadores para as atraírem).

Várias espécies de peixes (como o peixe-porco) e cefalópodes (como o polvo) são predadores das lagostas.


Ciclo de vida


A dimensão a que atinge a maturidade sexual é dependente da latitude. Quanto mais para norte mais tarde se atinge a primeira maturação (há registos de animais maturos aos 21 cm em latitudes baixas e animais a atingir a maturidade sexual aos 35 cm, nas latitudes mais elevadas. Normalmente, uma fêmea matura terá pelo menos seis anos. O acasalamento dá-se no Verão, seguido da postura pouco tempo depois. A fecundidade das fêmeas é dependente do seu comprimento. Por exemplo, à mesma latitude um animal de 23 cm poderá pôr 13 mil ovos e porá 134 mil ovos quando atingir um comprimento de 34 cm. No máximo uma fêmea poderá pôr até 250 mil ovos. Estes números de ovos, no meio marinho, não são considerados muito elevados.

A postura dá-se a seguir a uma muda do exosqueleto e as fêmeas não voltam a mudar até que os ovos tenham eclodido. Estes permanecem fixos aos apêndices abdominais durante a fase de incubação. As fêmeas no Atlântico estão ovadas entre Outubro e Março. A duração da incubação é dependente da temperatura da água. Nas latitudes mais baixas, a incubação dura 5 meses e nas águas de temperaturas menos elevadas poderá durar 9 meses. As larvas resultantes da eclosão, têm o nome de Filossomas, possuem 3 milímetros e são pelágicas planctónicas. Os animais passam à forma pós-larvar passado entre os 6 meses a um ano. Apesar de parecer muito longo, o período larvar de Palinurus elephas é um dos mais curtos da família Palinuridae, havendo espécies com um período larvar de cerca de um ano. As larvas têm um aspecto aplanado e transparente que em nada faz lembrar um animal adulto. Aliás, na maioria dos crustáceos, dadas as enormes diferenças morfológicas e diferentes subfases larvares, apenas os especialistas conseguem fazer a ligação entre as fases larvares e as adultas da maioria das espécies. No final da última fase larvar, já com um aspecto muito parecido com o de uma lagosta adulta, o animal passa a ter um comportamentobêntico.

O crescimento, nas fases juvenil e adulto, é mais lento e o macho cresce mais rapidamente que a fêmea. Por exemplo, para um macho atingir um peso de 500 g terá de ter cerca de cinco anos, enquanto uma fêmea precisa de 6 anos. Tem uma grande longevidade, podendo atingir uma idade estimada em 14 anos. As mudas dão-se com intervalos de 15 dias nos animais que acabam de chegar ao fundo, mas com a idade, a necessidade de mudar diminui, até que os indivíduos mais velhos, de crescimento mais lento, mudam apenas de ano a ano. Após uma muda, e até que o novo esqueleto externo tenha solidificado (o que demora várias horas), estes crustáceos são especialmente sensíveis a agressões exteriores como, porexemplo, a predação. Para restabelecer os níveis de cálcio necessários à solidificação da nova carapaça, é habitual as lagostas alimentarem-se da antiga carapaça.

O crescimento lento, com taxa de reprodução moderada e grande longevidade, classifica as lagostas como possuindo uma estratégia ecológica do tipo “k”. Ao contrário, os animais do tipo “r”, como os insectos, possuem baixa longevidade, taxas de reprodução elevadas e crescimento muito rápido. Estes conceitos de estratégia ecológica foram muito utilizados para ajudar a propor medidas de gestão e protecção no passado. Era uma simples regra de bom senso que as espécies com estratégia ecológica do tipo “k” necessitassem de mais atenção por parte das entidades gestoras e ligadas à conservação da natureza.


Distribuição


É uma espécie demersal, que prefere os substractos rochosos com algas. Durante o dia refugia-se em cavidades mal iluminadas. Prefere as cotas dos 20 aos 70 metros de profundidade, mas pode ocupar profundidades entre os 5 até aos 160 metros. Nos meses de Inverno ocupa as maiores profundidades.

É um animal considerado emblemático no Mediterrâneo (mais comum em Itália e França que na Grécia e Líbia), embora se distribua pelo Atlântico Nordeste, desde o Cabo Bojador até ao Sul da Noruega, incluindo o Mar Mediterrâneo e parte setentrional das Ilhas Britânicas, mas excluindo o Mar do Norte. Habita também as Ilhas Canárias, Madeira e Açores.


Medidas de gestão e protecção


A elevada exploração desta espécie tem conduzido a uma redução dos mananciais. De forma a gerir as populações de uma forma sustentável, está dado um tamanho comprimento mínimo de captura para esta espécie em Portugal. Assim, animais com dimensões inferiores a 11cm de comprimento da carapaça são ilegais. Nos Açores animais com menos de 23 cm (medidos entre a inserção do olho e o fim do abdómen) não podem ser capturados. Para esta espécie existe uma época de defeso que começa a 1 de Outubro e acaba a 31 de Dezembro. Nos Açores a época de defeso é a mesma, mas como uma extensão até 31 de Março para as fêmeas (embora esteja a ser preparada nova legislação). Através da caça-submarina (e a respectiva licença), nos Açores e na Madeira apenas podem ser capturados dois crustáceos (como a lagosta) por mergulhador e por dia. É proibida a captura deste animal utilizando garrafa de mergulho.

Noutros países, para além das medidas aplicadas em Portugal, foram ainda criadas Áreas Marinhas Protegidas direccionadas para a protecção desta espécie. Há países, como em Espanha em que há propostas científicas no sentido de criar uma interdição à captura de fêmeas ovadas e luta séria contra a pesca ilegal destes animais.

Em termos de esforços conjuntos para a protecção internacional desta espécie, ela encontra-se referida na Convenção de Barcelona.

Para que estas medidas de gestão possam ser eficientes, é necessário que haja um total respeito pelas mesmas, que se utilizem métodos de captura selectiva e que as capturas sejam registadas em lota.

Infelizmente, em Portugal um dos métodos utilizado para capturar esta espécie é a rede de emalhar de longo período. O processo de captura inclui deixar a rede de emalhar apanhar peixe, esperar que este apodreça e assim atrair as lagostas que acabam por ficar emalhadas. Esta arte é considerada lesiva do ambiente. O melhor método para capturar a lagosta, considerado o mais selectivo e o menos impactante, é a pesca por cofre.


Conclusão


Independentemente do valor comercial que a espécie tem e de quão maravilhosa pode ser uma refeição iniciada com este acepipe, a lagosta quando observada com escafandro autónomo é um animal complexo que deverá ser alvo de toda a consideração e dignidade.


Para saber mais:


Taxonomia:

Filo Arthropoda

Classe Crustacea

Ordem Decapoda

Família Palinuridae

Género Palinurus

Espécie Palinurus elephas (Fabricius, 1787)


Nomes da lagosta no mundo:


Português Lagosta;

Espanha langosta común europea e langosta roja (Castelhano), llagosta (Catalão)

Otarrain (Basco);

Inglês Common spiny lobster (Inglaterra), Crayfish (Irlanda);

Francês langouste rouge (FAO), langouste commune, grill (Bretão)

Alemão Langusten

Italiano Aragosta

Grego Astakós

Turco Börek


Pequeno glossário:


Corno substantivo masculino - cada um dos apêndices duros e recurvados que certos animais têm na cabeça (Do lat. cornu-, «id.») (in Diciopédia 2002, Porto Editora, Lda).

Morfologia tratado ou estudo da forma exterior que a matéria ou os seres vivos podem tomar (in Diciopédia 2002, Porto Editora, Lda.)

Muda Substituição periódica do exosqueleto efectuada periodicamente pelos crustáceos. Com o aumento da idade e consequente diminuição da taxa de crescimento, o período entre mudas aumenta.

Necton Animais que vivem na coluna de água, mas que conseguem superar o movimento geral das correntes.

Plâncton Animais e algas que vivem na coluna de água e derivam sem conseguir contrariar o movimento longitudinal das correntes. Alguns deles possuem a capacidade de executar movimentos verticais de grande amplitude (tipicamente diários).

Rostro parte anterior da carapaça.


Páginas Internet:


http://www.mnhn.fr/mnhn/bimm/protection/fr/Especes/Fiches/Palinuruselephas.html Dados interessantes sobre a lagosta na perspectiva francesa.

http://vm.cfsan.fda.gov/%7Edms/qa-ind5k.html Dados interessantes sobre a lagosta na perspectiva norte-americana.

http://www.mermaid1.demon.co.uk/body_crustaceans.htm Vários crustáceos em comparação fotográfica.

http://www.itsligo.ie/biomar/crustace/PALELE.HTM

http://marenostrum.org/vidamarina/animalia/invertebrados/crustaceos/langosta/

http://www.carm.es/cma/dgmn/mnatural/litoral/especies/crustace/palinuru.htm

http://www.geocities.com/ruipatriciof/lobsters/

Bibliografia complementar:

Debelius, H. 1999. Crustacea: guide of the world. Ikan, Frankfurt. 321p.

Fischer, W., G. Bianchi and W.B. Scott (eds), 1981. FAO Species Identification sheets for fishery purposes. Eastern Central Atlantic, areas 34 e 47 (in part). Vol. V. Otava.

Moonsleitner, H. & R. Patzner 1995. Unterwasserführer: Mittelmeer (Niedere Tiere). Verlag Naglschmid, Estugarda. 214p. Guia de invertebrados muito completo para o Mediterrâneo. Tem boas fotografias e muita informação interessante sobre a bio-ecologia de algumas espécies.

Morton, B., J.C. Britton & A.M.F. Martins 1998. Ecologia Costeira dos Açores. Sociedade Afonso Chaves, Ponta Delgada. 249p. Este livro transmite valiosos conhecimentos sobre o funcionamento dos ecossistemas costeiros dos Açores. Obrigatório na preparação de estudos sobre ecologia na zona entre o supralitoral e o infralitoral dos Açores.

Portaria n.º 1102-D/2000 de 22 de Novembro “Pesca por Arte de Armadilha”

Reis, D.C.C. 1997. Estudo da pescaria de lagosta verde (Palinurus regius De Brito Capello, 1864) do Arquipélago de Cabo Verde. Relatório de Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas. Universidade do Algarve, Faro, 53p + Anexos.

Saldanha, L. 1995. Fauna Submarina Atlântica. Publicações Europa-América. 364p. O facto de estar escrito em Português confere-lhe uma franca vantagem em relação a outros guias do género.

Sequeira, R.M.V. 2001. Biologia e caracterização da pesca de lagosta (Palinurus elephas, Fabricius 1787) nos Açores. Relatório de Estágio do Curso de Licenciatura em Biologia Marinha e Pescas. Universidade do Algarve, Faro, 53p + Anexos.

Wirtz, P. 1995. Unterwasserführer: Madeira, Kanaren, Azoren (Invertebrates). Verlag Naglschmid, Estugarda. 247p. Guia de invertebrados muito completo para os Arquipélagos da Madeira, Canárias e Açores. Tem boas fotografias e muita informação interessante sobre a bio-ecologia de algumas espécies.

Agradecimentos

Agradecimento aos colegas Helen Rost Martins, João Gonçalves e Rogério Ferraz pela revisão e sugestões. Agradecimento à Margarida Abecasis pela revisão do manuscrito.

Biografia

Frederico Cardigos - é Licenciado em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve e é Mestre em Gestão e Conservação da Natureza pela Universidade dos Açores. É bolseiro do Centro do IMAR da Universidade dos Açores através do Projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, MAROV (PDCTM/P/MAR/15249/1999) e colabora activamente no Projecto OGAMP (MAC/4.2/A2), financiado pela União Europeia através do Programa InterReg IIIb.

Leia o artigo completo, incluindo ver as fotografias em:
http://www.horta.uac.pt/Projectos/MSubmerso/old/200312/Palinurus.htm


Áreas Marinhas Protegidas não são Reservas Integrais

Já escrevi isto, mas, dado que estou recorrentemente a ouvir este erro, deixem-me repetir: “Áreas Marinhas Protegidas não são Reservas Integrais!”. Ou seja, pelo facto de classificar uma área como área marinha protegida não fica implícito que se irá impedir o seu uso. Segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais), numa versão simplificada, área marinha protegida é uma zona do mar, definida por lei e com um sistema dedicado que a regula tendo em vista a conservação da natureza ou salvaguarda dos recursos marinhos. Por “sistema” entende-se uma direcção, um corpo técnico ou outra entidade que tenha jurisdição sobre a área e aí possa promover ou inibir actividades. A classificação está relacionada com os usos possíveis, mas não implica que não se possa utilizar. Depois de classificar uma área como área marinha protegida, pode-se dividir a área em diversas partes de acordo com as características que possuem. A isto chama-se zonamento. Por exemplo, na Paisagem Protegida do Monte da Guia, na Ilha do Faial, Açores, existe uma área marinha (em volta do Monte) e que possui uma pequena zona que é Reserva Integral (as Caldeirinhas). Uma Reserva Integral não pode ser invadida por ninguém! Bom, há duas excepções: forças da ordem e técnicos devidamente autorizados pela entidade gestora. Normalmente, as áreas classificadas como Reserva Integral são muito pequenas e baseiam-se em justificações muito fortes. Por exemplo, a Área Marinha Protegida de Fernando Noronha (que é grande) tem uma pequena baía classificada como Reserva Integral (Baía dos Golfinhos). Esta baía foi identificada como um local importante para a reprodução dos golfinhos-rotadores e por essa razão está proibida a entrada a qualquer embarcação ou ser humano. É de tal forma protegida que, mesmo por terra, só se pode vislumbrar ao longe uma parte da baía.

A parte Sul das Desertas, na Madeira, também é Reserva Integral. Neste caso, foi declarada para protecção dos lobos-marinhos. Hoje em dia todos os dados indicam ter-se tratado de uma boa opção e, aparentemente, a população de lobos-marinhos, antes à beira da extinção, parece estar a renascer das cinzas.

Na ilha de Ustica, em Itália, a parte Norte tem uma pequeníssima parte que é Reserva Integral e a restante parte Norte pode ser utilizada desde que não haja extracção (pesca, caça, extracção de areia, etc.). Na parte Sul podem-se fazer todas as actividades (desde que de acordo com a lei geral, claro!). Neste caso, a justificação da Reserva Integral está relacionadacom a manutenção de um local com as características primitivas. A entidade gestora deste local espera que este pequeno local possa servir de termo de comparação para eventuais impactos das actividades que têm lugar nas restantes áreas. É um método engenhoso e muito divulgado a nível internacional.

Outros exemplos interessantes são as “áreas de silêncio”. Em certos locais há nidificação de aves marinhas junto à costa, em plena ravina. Quando uma embarcação passa a grande velocidade, fazendo grande barulho (como as motas de água), as aves podem assustar-se e as mais jovens cair para dentro de água e afogarem-se. Isto acontece, por exemplo, com osgarajaus. Para evitar que as aves marinhas caiam dentro de água pode-se impedir que, naquela zona costeira, junto à colónia nidificante, as embarcações passem a grande velocidade ou a fazer barulho. Como as aves não estão sempre a nidificar, esta zona até pode ser declarada “de silêncio” apenas em parte do ano.

As combinações de métodos para obter determinados resultados são tão complexos que não me atrevo a tentar sintetizá-los a todos. De qualquer forma, quero escrever o meu exemplo favorito de zonamento. Na Ilha do Corvo (Açores), há um local muito conhecido pelos mergulhadores. Trata-se do Caneiro dos Meros. Neste local os pescadores profissionais decidiram deixar de pescar junto ao fundo. O resultado foi muito interessante, os meros que aí vivem são os mesmos desde há cinco anos (posso confirmá-lo porque fui lá filmá-los pela primeira vez em 23 de Dezembro de 1998) e estão habituados à presença humana. Aproximam-se dos mergulhadores e permitem belíssimas fotografias. Ou seja, este zonamento voluntário permitiu o aparecimento de uma outra actividade com interesse económico: o turismo de mergulho.


Publicado na coluna "Casa-Alugada"